O que é PVP? Devo permitir nas minhas mesas de RPG ou não?

PVP é o embate entre 2 ou mais personagens dos jogadores, seja por motivos externos à mesa ou internos.

Mas porque o PVP ocorre no RPG? Um personagem fez algo que irritou muito o outro? Eles estão fingindo? Ou os jogadores estão querendo comparar o poder um do outro? Há muitos motivos.

Imagine um paladino e um clérigo (duas classes que normalmente são “bondosas”), eles provavelmente se darão bem, né?

Agora imagine o clássico: um paladino e um ladino (uma classe “bondosa” e uma “má”) … Caso esses jogadores já tenham histórico de se enfrentarem, essa diferença de classes pode ser a desculpa de que precisavam.

Nosso objetivo aqui é que essa distinção não traga problemas externos para a mesa.

Pegue, por exemplo, dois jogadores que costumam rivalizar. Usar classes que naturalmente são rivais será uma forma bem fácil de se destilar a rivalidade dos jogadores dentro do jogo, podendo acarretar no pior: o PVP (Jogador contra jogador).

Mas como separar a relação entre os personagens e a boa convivência na mesa? Será que sempre temos que fazer “o que o nosso personagem faria”? Na verdade, não.

Existem 3 formas de se jogar RPG em grupo, e vamos ver cada uma nesse artigo. Elas possuem uma relação direta com a existência do PVP no seu RPG.

Tipo 1: Jogo Individualista – “Todos por todos, cada um por si.”

O RPG é um jogo que tenta se aproximar ao máximo de uma experiência real (o metagaming*, por exemplo, é uma forma de desconectar a mente externa da mente interna do personagem).

*Metagaming é quando um jogador ou o mestre utiliza de recursos ou conhecimentos que seu personagem naturalmente não saberia, mas ele como jogador sabe. Exemplo: um jogador vendo uma cena em que seu personagem não está presente.

Contudo, existe uma coisa que deve ser um consenso entre os jogadores na maioria das mesas, e que fura a bolha do metagaming em prol da boa convivência: A Coesão do grupo de RPG.

Não há briga entre os personagens, pois isso atrapalha a narrativa. Se um ladino quer esconder o tesouro que ele encontrou, pois “é o que o personagem dele faria”, um bom jogador simplesmente não irá fazer. O Jogo Individualista é um jogo onde isso é permitido.

O mestre permite que os jogadores tenham total liberdade de ações, mesmo quando contra o próprio grupo, e as consequências são resolvidas na hora. Esse estilo de jogo, naturalmente, admitirá uma forma violenta de resolver o problema, que é o PVP.

E o que envolve o PVP?

A presença do PVP é uma regra caseira, e deve ser combinada com os jogadores anteriormente — na sessão zero. O problema é que o PVP pode acarretar em morte de personagem, intrigas e no fim da campanha.

É necessária muita maturidade dos jogadores, e normalmente gera campanhas difíceis de serem narradas. E, acredite, há uma grande chance de que, mesmo que tenha sido combinado, os jogadores que estavam envolvidos fiquem brigados entre si.

RPG é um jogo coletivo, muito diferente de outros jogos de tabuleiro, em que os jogadores jogam uns contra os outros. Ninguém gosta de perder o próprio personagem por um motivo bobo! Agora que te mostrei o tipo errado, vamos ver os outros 2 tipos de jogo.

Tipo 2: Jogo Coletivo — “Estamos juntos nessa, somos amigos. Independente de tudo.”

Nesse estilo de jogo, os PJ gostam de estar uns com os outros, se preocupando simultaneamente com o andar da campanha. Eles tomam decisões coletivamente e são honestos uns com os outros.

Será um jogo lindo, mas talvez um pouco sem graça e não verossímil. Um paladino e um ladino andando de mãos dadas!

Agora veja o tipo 3:

Tipo 3: Jogo Competitivo-Coletivo — “Estamos juntos nessa, mas eu não tenho que gostar!”

Esse é o caso do ladino e do paladino! Os personagens toleram se aventurarem juntos por motivos ocultos ou em comum.

Ainda jogam pensando no bem da campanha, talvez tendo um pouco mais de problemas nas tomadas de decisão. Nesse caso, como é ilógico eles estarem juntos sem ter um motivo, esse motivo é de suma importância para que a campanha pareça real.

Aqui, o jogador bom não deve fazer o que o personagem dele faria (por mais que ele fizesse), pelo bem do grupo.

Como são as mesas na vida real?

A maioria dos jogos de RPG são uma mistura de jogo competitivo-coletivo com um jogo coletivo, com PVP proibido.

É esse padrão que é visto, e são essas as características mais observadas nas mesas duradouras.

Então esse é o padrão que você como mestre deve tentar buscar se quiser que sua mesa dure!

Ah, e se você proibiu o PVP, e viu algo acontecendo que leve à alguma intriga, poupe tempo de discussão: intervenha. Mesmo que isso afete a agência do jogador.

Quando permitir PVP então? Já vi pessoas dizendo que era bom e que se divertiram!

Vou te dar três exemplos:

• Controle mental
• Um plano que um dos jogadores teve: ele vai mentir que está contra um jogador por um bem maior. Pode ser feito sem que os outros jogadores saibam, mas é preferencial que ele comunique ao mestre, pois o mesmo pode intervir achando que é um desentendimento.
• One-shots (Aventuras de sessão única): Nesse caso é mais provável que os jogadores não tenham muito compromisso com seus personagens, às vezes não se importando tanto de perdê-los.

Agora, se o PVP vier de um desentendimento entre jogadores, pare na hora! Se necessário, pare a campanha e retorne apenas quando os problemas estiverem resolvidos!

E dá certo, o PVP?

O maior problema do PVP, além do seu impacto no clima da mesa de RPG, é que muitos dos sistemas não são feitos para abrigar esse tipo de embate.

O nível de poder dos jogadores foi equilibrado para enfrentar monstros, e dos monstros para enfrentar jogadores.

Os jogadores, além disso, possuem diferentes papéis dentro do grupo. Um curandeiro, por exemplo, teria problemas para enfrentar um guerreiro.

Eu, por exemplo, já permiti o seguinte embate: um guerreiro que dá a maior quantidade de dano possível, e um ladino focado em se esconder muito bem. E bom, eles ficaram praticamente brincando de pique esconde!